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Linguagem oral e escrita

Este artigo aborda as relações entre a linguagem oral e escrita, partindo do pressuposto de que a oralidade antecedeu a escrita, mas que ambas mantêm uma relação contínua

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Linguagem oral e escrita

Este artigo aborda as relações entre a linguagem oral e escrita, partindo do pressuposto de que a oralidade antecedeu a escrita, mas que ambas mantêm uma relação contínua. A escrita é uma forma convenccionada para registar a informação que normalmente passa pela via oral. Mas elas não se substituem.

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Conceito de linguagem

A linguagem é a faculdade de expressão e de comunicação, seja entre seres humanos, seja entre animais (ex.: linguagem das abelhas), ou ainda entre máquinas (ex.: linguagem dos computadores). Para tal, ela faz uso de um sistema de signos convenccionados.

Para CRUVINEL (2013), a linguagem estabelece uma relação dialógica entre o indivíduo e o meio social em que ele está inserido e, por pressupor uma interacção entre duas ou mais pessoas, ela apresenta-se como um fenómeno social. Ela é uma comunicação, pois as pessoas não trocam somente palavras, mas sim enunciados. Ela transforma-se através da interacção entre as

pessoas, um aprende com o outro e passa para o próximo. A linguagem é algo contínuo que com o tempo se vai transformando e passar por mudanças.

Aprender a linguagem não é apenas aprender a codificar ou decodificar, é necessário aprender a mesma como sistema de signos não por meio de conjuntos de sinais (CRUVINEL, 2010). Esses signos podem-se organizar consoante as línguas naturais ou artificiais.

Entende-se por línguas naturais aquelas que surgiram e evoluíram naturalmente, em virtude da capacidade da linguagem universal e específica da espécie humana. Estas línguas são usadas como meios de comunicação e de expressão e as línguas artificiais referem-se àquelas que foram criadas pelo homem para servirem como meios de comunicação entre grupos específicos, caso dos sistemas lógicos e matemáticos.

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Propriedades comuns das línguas naturais

Ora, apesar das diferenças que se podem assinalar entre as línguas naturais, elas apresentam propriedades comuns, como:

  • Número restrito de sons;
  • Distinção consoante/vogal;
  • Organização do vocabulário em categorias gramaticais como nomes, verbos, adjectivos, advérbios, pronomes, etc.;
  • Distinção entre pretérito e presente;
  • Frases negativas, interrogativas e complexas.
  • Capacidade de nomear ou falar de pessoas ou coisas ausentes no momento da comunicação.
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A língua

A língua é uma forma particular de linguagem, um sistema de signos linguísticos que podem ser utilizados por meio da fala ou da escrita. O signo linguístico é o nome que se dá à relação entre o significante (uma sequência de sons e forma gráfica) e o significado (uma ideia ou conceito). Os constituintes de um signo linguístico são relacionados de forma arbitrária e convencional em relação ao referente, que é o objecto real (ou uma realidade abstracta) a que o signo se refere.

Exemplos:

  • O signo “casa” é constituído pelo significante “casa” e pelo conceito/ significado de casa (edifício de formato e tamanho variados, quase sempre destinado à habitação).
  • A relação entre a sequência de sons que formam a palavra “casa” e o seu significado é arbitrária, pois não existe nada no objecto para que seja designado por essa palavra, ou seja, não existe uma relação directa entre esse som e o seu significado.
  • Esta designação é convencionada por uma comunidade linguística, por exemplo, em outras línguas o mesmo objecto recebe outras designações (Fra. maison, Ing. house, etc.), o que prova que o signo linguístico é convenccional.
  • Veja-se, por exemplo, o signo “livre” que ocorre em Português e Francês. Um falante do Português irá compreender o seu significado como uma noção de liberdade, e um francês compreendê-lo-á como sendo referente a um livro. Portanto, o contexto em que esse signo decorre é determinante para o seu significado.
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O sistema de comunicação

A comunicação pode decorrer com recurso a diversas manifestações da linguagem, podendo ser: não-verbal, verbal e mista.

A linguagem não-verbal recorre ao uso de simbologias (o céu nublado que indicia chuva ou temporal; Apomba branca que representa a paz); sons não verbais emitidos pelas sirenes, campainhas ou entoação da voz (qualidade da voz, velocidade, ritmo); gestos que podem ser representados pela expressão facial, movimentos dos olhos e da cabeça, figuras, desenhos, pintura, postura e movimentos corporais, dança, etc.

A linguagem verbal é aquela que é realizada através do uerbum (palavra), podendo ser realizada pela via oral ou escrita.

A linguagem mista faz a combinação das linguagens não-verbal e verbal, por exemplo: a banda-desenhada, o cinema e a televisão (misturam imagens e palavras).

No âmbito da comunicação verbal, a Teoria da Comunicação pressupõe a existência dos seguintes elementos: emissor, mensagem, receptor, código, canal de comunicação e contexto (SOUSA, 2006; JAKOBSON, 1969).

Como se pode entender na citação acima, é necessário que exista sempre um Emissor ou Destinador que envie a Mensagem a um Receptor ou Destinatário.

A Mensagem é um código – um conjunto de regras de uma dada língua que devem ser conhecidas pelo Receptor para que este seja capaz de descodificar a Mensagem, compreendendo-a.

O código é transmitido através de um Canal, ou seja, o meio através do qual a mensagem chega ao destinatário (podendo ser usado um meio escrito como a carta, as ondas do ar transmitidas pela rádio ou pelo telemóvel, ou ainda pela televisão).

A Teoria de Comunicação pressupõe a existência de um contexto ou referente para que a mensagem seja compreendida ou descodificada pelo receptor. Assim, um texto como “esta cidade é bela” só poderá ser validado em função do contexto em que esse enunciado foi produzido de modo que, se o receptor residir numa cidade diferente do emissor, o mesmo enunciado já não tem o mesmo valor referencial.

É comum ouvirmos a adaptação destes conceitos da Teoria da Comunicação para a comunicação verbal, recorrendo a termos como locutor, interlocutor, ouvinte, universo de referência, saber compartilhado, contexto situacional, contexto verbal e meio (oral ou escrito).

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Linguagem oral vs Linguagem escrita

Ao longo de milénios, os diferentes sistemas de escrita adoptados visavam a representação da língua oral. Entretanto, existem diferenças assinaláveis entre a oralidade e a escrita que vale a pena ressaltar.

Segundo MARCUSCHI (1997:39), a fala é uma actividade muito mais central do que a escrita no dia-a-dia da maioria das pessoas. Contudo, as instituições escolares adoptam uma postura que dá mais atenção à escrita relativamente à fala. Acontece às vezes que se desconhecem as potencialidades de cada uma das linguagens e as suas diferenças.

Antes de demonstrarmos as possibilidades de trabalho com a oralidade e a escrita, no âmbito da educação infantil, tracemos um quadro genérico que nos permita relacionar a oralidade e a escrita, no que cerne às características distintivas.

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Características da llinguagem oral:

  • Presença simultânea de interlocutores;
  • Adequação permanente do discurso;
  • Maior liberdade de aplicação de regras;
  • Vocabulário pouco diversificado;
  • Frequência de repetições;
  • Recurso a bordões linguísticos;
  • Utilização de vocalizações;
  • Predomínio de frases simples/inacabadas;
  • Predomínio de coordenação;
  • Ausência de recursos estilísticos;
  • Recurso a entoações, às pausas e ritmos;
  • Recurso à linguagem não verbal

Se prestar atenção a uma situação de comunicação oral, poderá perceber que estas características ocorrem com maior frequência. Pense numa situação particular de comunicação, podendo ser um diálogo entre colegas ou amigos e, tente identificar algumas das características da oralidade que ocorrem com maior frequência.

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Características da linguagem escrita

Para estabelecer uma diferença nítida entre a oralidade e a escrita, passamos a apresentar as características da linguagem escrita:

  • Não presença simultânea de interlocutores;
  • Não adequação do discurso ao leitor;
  • Rigor na aplicação das regras gramaticais;
  • Vocabulário cuidado e diversificado;
  • Inexistência de repetições desnecessárias;
  • Ausência de bordões linguísticos;
  • Ausência de vocalizações;
  • Predomínio de frases complexas;
  • Predomínio de subordinação;
  • Presença de recursos estilísticos;
  • Recurso aos sinais de pontuação (ritmo);
  • Recurso à acentuação (entoação).

Estas são algumas das principais características que permitem distinguir a linguagem oral da escrita. O que não significa que uma seja superior que a outra.

Teorizadores como MARCUSCHI (1997) defendem que na dicotomia escrito/oral encontramos, entre um extremo e outro, um continuum, onde podemos localizar os diversos tipos de produções linguísticas, pois, além das diferenças, podemos encontrar algumas semelhanças em diversos géneros discursivos.

Ou seja, apesar das diferenças entre a escrita e o oral, existem aspectos comuns entre ambos e aqueles que são mais desenvolvidos apenas ou na linguagem oralou na linguagem escrita.

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Aspectos da oralidade que a escrita não consegue transmitir.

É neste sentido que HALLIDAY (1989:31) refere que há vários aspectos da oralidade que a escrita não consegue transmitir. Do ponto de vista de características linguísticas, a escrita não transmite os seguintes aspectos:

  • Prosódia ou características fonológicas da linguagem: entoação (proeminência do núcleo tónico; contorno melódico ou tom), ritmo, divisão frásica e pausas.
  • Variações vocais e gestuais que transmitem significado na fala: timbre (aspirado, agudo, etc. e qualidades vocais), velocidade, altura, gestos faciais e corporais.

Estes aspectos só contribuem para percebermos a natureza das linguagens oral e escrita. Porém, como um continuum podemos estabelecer algumas semelhanças entre as duas linguagens. Por exemplo, o receptor pode escutar algo que se enquadre nas seguintes dimensões da oralidade:

  • Oral espontâneo (uma conversa entre amigos ou conhecidos);
  • Oral preparado (os diálogos nas telenovelas ou no teatro que foram ensaiados antes e que cada um sabe o que deve dizer);
  • Escrito oralizado (leitura dum noticiário na TV, na rádio…); Igualmente, o receptor é capaz de ler:
  • Oral transcrito (caso de uma entrevista oral que depois é transcrita para o papel);
  • Escrito quase-espontâneo (a escrita que predomina nas redes sociais como Facebook, Whatsapp, etc);
  • Escrito preparado (os textos literários, jornalísticos ou científicos).

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