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Um exemplo do ensino da escrita na educação infantil

PUBLICIDADE Um exemplo do ensino da escrita na educação infantil Para aprofundarmos as questões relacionadas às estratégias de organização do trabalho pedagógico, leia o texto abaixo, que é um relato adaptado da observação de uma actividade desenvolvida por uma professora numa turma de crianças de 5 anos, numa escola da rede municipal de Belo Horizonte, no Brasil: Era Copa do Mundo. Havia um projecto de trabalho institucional sobre o tema em andamento, envolvendo todas as turmas. A escola toda estava enfeitada com bandeirinhas do Brasil, feitas pelas próprias crianças. Na entrada da escola, havia um grande jornal-mural cheio de notícias sobre os jogos. Ficamos a saber que a cada jogo uma turma era responsável por escrever a notícia e colocá- la no mural, para que as demais turmas da escola pudessem ler e, assim, acompanhar a participação do Brasil. Na turma observada, no dia anterior, o dever de casa era assistir ao jogo do Brasil. Isso nem era necessário sugerir, pois no clima de Copa, todas as crianças manifestavam o maior interesse em assistir aos jogos. Esse dever de casa era acompanhado por algumas questões colocadas em tirinhas, pelas quais duas ou mais crianças ficavam responsáveis. Antes da entrega das tirinhas, a professora explicou que elas iriam ser os repórteres e que essas questões iriam facilitar a escrita da notícia no dia seguinte. A totalidade do conteúdo das questões foi apresentada por meio de um cartaz que a professora colou na parede da sala. Ela ia marcando com o dedo cada questão que ia lendo e, em seguida, discutia com as crianças o que deveria ser feito. PUBLICIDADE As questões eram as seguintes: No dia seguinte, as crianças chegaram eufóricas com a vitória do Brasil e ansiosas para escreverem a notícia. Sentadas no chão, juntamente com a professora num dos cantos da sala, foram conversando sobre as informações colhidas sobre o jogo. A professora, actuando como escrivã, propôs que se sentassem nas cadeirinhas, em meia-lua, frente ao quadro, para que ela pudesse ir registando no cartaz. E assim ia fazendo as perguntas que induziam à elaboração da notícia: O que aconteceu? Quando? Onde? Como? Quem? As crianças respondiam e ela as desafiava em relação à estrutura das frases que deveriam ser escritas. O resultado desta experiência foi a escrita de uma notícia bem estruturada, real, tal como poderia ser encontrado no mundo adulto, em um jornal de verdade. A escolha da manchete da notícia gerou grande discussão, uma vez que a professora disse que a manchete tem que provocar o leitor. O título construído pelo grupo com a intervenção da professora foi: Alegria dos torcedores do Brasil. As crianças, que até então tinham tido a professora como escriba, nesse momento, foram desafiadas a escrever esse título, sem que tivessem um modelo. Para tanto, foi proposto que trabalhassem em pares. A constituição de tais pares não foi aleatória. A professora, que já tinha conhecimento das dificuldades e potencialidades de escrita de cada criança, agrupou-as intencionalmente, de tal sorte que um pudesse estar intervindo sobre a aprendizagem do outro. Com este trabalho pretendia-se em primeiro lugar, promover a reflexão das crianças sobre a linguagem escrita, ou seja, fazê-las pensar sobre como a escrita se estrutura. A proposta era que escrevessem a manchete da notícia, primeiro com a ajuda do alfabeto móvel, que havia sido construído pelas crianças na semana anterior, e depois no papel. Para muitos, a palavra “Brasil” já estava garantida de memória e, portanto, não apresentaram dificuldade para a escrever. Para a escrita das demais palavras, as crianças discutiam e, uma das componentes da dupla registava. A professora chamava a atenção à necessidade de elas concordarem com as ideias propostas por cada e, só depois podiam escrever. Por longo tempo, as crianças trocaram ideias. Uma ditava e a outra escrevia. Muitas vezes discordavam e discutiam à busca de consenso. Enquanto decorria a actividade, a professora passava pelos pares, intervindo nas escritas a partir dos conhecimentos de cada uma, mas sempre procurando fazer com que avançassem na construção de suas hipóteses. Em seguida, atendendo a uma proposta da professora, buscaram giz de cera, lápis de cor, tesoura, cola e algumas revistas para ilustrarem a notícia com desenhos e, na sequência, a turma toda foi colar a notícia no mural. Enquanto a professora ia colando, as crianças iam tentando decifrar ou ler, à sua maneira, as notícias dos jogos anteriores que iam sendo tiradas do mural, dando lugar à notícia relativa ao jogo mais recente. Depois foram chegando, uma a uma, as demais turmas, que passaram a ler a notícia de acordo com suas possibilidades de leitura naquele momento, sempre desafiadas por seus professores, que iam perguntando: o que vocês acham que está escrito aqui? Como todos estavam envolvidos no evento, assistiam aos jogos e, portanto, já tinham conhecimentos prévios a respeito. Era fácil “ler” grande parte do que estava registado na notícia. Para as turmas de crianças menores, os professores liam, sempre mostrando e comentando as ilustrações e, apontando com os dedos o que estava escrito. Essa sequência de actividades, envolvendo a leitura, escrita e reflexão sobre a língua, mostra a clareza dos objectivos da professora e como ela organizou o tempo, espaço, materiais, crianças, metodologias, actividades e intervenções com vista a uma aprendizagem efectiva das crianças. É importante reflectirmos como uma simples sequência de actividades pode conter um conjunto de elementos que levem a reflexões profundas sobre os múltiplos aspectos envolvidos no acto de ensino/aprendizagem.

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Um exemplo do ensino da escrita na educação infantil

Para aprofundarmos as questões relacionadas às estratégias de organização do trabalho pedagógico, leia o texto abaixo, que é um relato adaptado da observação de uma actividade desenvolvida por uma professora numa turma de crianças de 5 anos, numa escola da rede municipal de Belo Horizonte, no Brasil:

Era Copa do Mundo. Havia um projecto de trabalho institucional sobre o tema em andamento, envolvendo todas as turmas. A escola toda estava enfeitada com bandeirinhas do Brasil, feitas pelas próprias crianças. Na entrada da escola, havia um grande jornal-mural cheio de notícias sobre os jogos. Ficamos a saber que a cada jogo uma turma era responsável por escrever a notícia e colocá- la no mural, para que as demais turmas da escola pudessem ler e, assim, acompanhar a participação do Brasil.

Na turma observada, no dia anterior, o dever de casa era assistir ao jogo do Brasil. Isso nem era necessário sugerir, pois no clima de Copa, todas as crianças manifestavam o maior interesse em assistir aos jogos. Esse dever de casa era acompanhado por algumas questões colocadas em tirinhas, pelas quais duas ou mais crianças ficavam responsáveis. Antes da entrega das tirinhas, a professora explicou que elas iriam ser os repórteres e que essas questões iriam facilitar a escrita da notícia no dia seguinte. A totalidade do conteúdo das questões foi apresentada por meio de um cartaz que a professora colou na parede da sala. Ela ia marcando com o dedo cada questão que ia lendo e, em seguida, discutia com as crianças o que deveria ser feito.

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As questões eram as seguintes:

  • Com quem o Brasil jogou?
  • Onde foi o jogo? (Nome do estádio, da cidade e do estado).
  • A que horas foi o jogo? (Hora no Brasil e no país em que decorreu o jogo).
  • Como foi o jogo? Qual foi o resultado?
  • Quem marcou os golos?
  • Como foi a actuação do juiz (árbitro principal) e dos árbitros auxiliares?
  • Como foi o comportamento da torcida?
  • Quem eram os jogadores da equipe brasileira?

No dia seguinte, as crianças chegaram eufóricas com a vitória do Brasil e ansiosas para escreverem a notícia. Sentadas no chão, juntamente com a professora num dos cantos da sala, foram conversando sobre as informações colhidas sobre o jogo.

A professora, actuando como escrivã, propôs que se sentassem nas cadeirinhas, em meia-lua, frente ao quadro, para que ela pudesse ir registando no cartaz. E assim ia fazendo as perguntas que induziam à elaboração da notícia: O que aconteceu? Quando? Onde? Como? Quem? As crianças respondiam e ela as desafiava em relação à estrutura das frases que deveriam ser escritas.

O resultado desta experiência foi a escrita de uma notícia bem estruturada, real, tal como poderia ser encontrado no mundo adulto, em um jornal de verdade. A escolha da manchete da notícia gerou grande discussão, uma vez que a professora disse que a manchete tem que provocar o leitor. O título construído pelo grupo com a intervenção da professora foi: Alegria dos torcedores do Brasil.

As crianças, que até então tinham tido a professora como escriba, nesse momento, foram desafiadas a escrever esse título, sem que tivessem um modelo. Para tanto, foi proposto que trabalhassem em pares. A constituição de tais pares não foi aleatória. A professora, que já tinha conhecimento das

dificuldades e potencialidades de escrita de cada criança, agrupou-as intencionalmente, de tal sorte que um pudesse estar intervindo sobre a aprendizagem do outro.

Com este trabalho pretendia-se em primeiro lugar, promover a reflexão das crianças sobre a linguagem escrita, ou seja, fazê-las pensar sobre como a escrita se estrutura. A proposta era que escrevessem a manchete da notícia, primeiro com a ajuda do alfabeto móvel, que havia sido construído pelas crianças na semana anterior, e depois no papel. Para muitos, a palavra “Brasil” já estava garantida de memória e, portanto, não apresentaram dificuldade para a escrever.

Para a escrita das demais palavras, as crianças discutiam e, uma das componentes da dupla registava. A professora chamava a atenção à necessidade de elas concordarem com as ideias propostas por cada e, só depois podiam escrever.

Por longo tempo, as crianças trocaram ideias. Uma ditava e a outra escrevia. Muitas vezes discordavam e discutiam à busca de consenso. Enquanto decorria a actividade, a professora passava pelos pares, intervindo nas escritas a partir dos conhecimentos de cada uma, mas sempre procurando fazer com que avançassem na construção de suas hipóteses.

Em seguida, atendendo a uma proposta da professora, buscaram giz de cera, lápis de cor, tesoura, cola e algumas revistas para ilustrarem a notícia com desenhos e, na sequência, a turma toda foi colar a notícia no mural. Enquanto a professora ia colando, as crianças iam tentando decifrar ou ler, à sua maneira, as notícias dos jogos anteriores que iam sendo tiradas do mural, dando lugar à notícia relativa ao jogo mais recente.

Depois foram chegando, uma a uma, as demais turmas, que passaram a ler a notícia de acordo com suas possibilidades de leitura naquele momento, sempre desafiadas por seus professores, que iam perguntando: o que vocês acham que está escrito aqui? Como todos estavam envolvidos no evento, assistiam aos jogos e, portanto, já tinham conhecimentos prévios a respeito. Era fácil “ler”

grande parte do que estava registado na notícia. Para as turmas de crianças menores, os professores liam, sempre mostrando e comentando as ilustrações e, apontando com os dedos o que estava escrito.

Essa sequência de actividades, envolvendo a leitura, escrita e reflexão sobre a língua, mostra a clareza dos objectivos da professora e como ela organizou o tempo, espaço, materiais, crianças, metodologias, actividades e intervenções com vista a uma aprendizagem efectiva das crianças.

É importante reflectirmos como uma simples sequência de actividades pode conter um conjunto de elementos que levem a reflexões profundas sobre os múltiplos aspectos envolvidos no acto de ensino/aprendizagem.

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