O conceito de currículo e Sua Historia
O conceito de currículo, conforme Dewey, desempenha simultaneamente duas funções essenciais: ele socializa o indivíduo e dita a trajetória educacional. A análise desse conceito se concentra principalmente na segunda função, abordando três perspectivas – histórica, ontológica e epistemológica – ainda que brevemente. Historicamente, o currículo parece preceder até mesmo a estruturação e a própria existência da palavra em si.
Desde os primórdios da humanidade (ou das civilizações), onde há aprendizado e conhecimento a ser transmitido, o currículo se estabelece. Goodson (2001) argumenta que o currículo tem profundas raízes históricas. À medida que o currículo foi sendo moldado pelo contexto histórico – espaço e tempo – ele revelou suas dimensões ontológica e epistemológica.
Tradicionalmente, o currículo foi percebido como a transmissão de informações de uma geração para outra na forma de conhecimento organizado. Socialmente aceita, essa função se institucionalizou, refletindo na organização e estruturação que explicitam a relação entre ensinar e aprender em diferentes níveis, moldando o modelo do sistema educacional.
Assim, o currículo se tornou uma base para a conceptualização, configurando-se como um corpo de conhecimento que permite não apenas sua explicação sistemática, mas também sua representação formal e declarativa. Nesse processo, o currículo assume uma perspectiva ontológica, definindo-se e afirmando-se como tal ao elucidar seu referente.
A palavra “currículo” tem sua raiz etimológica no termo latino “currere”, que pode ser tanto um verbo quanto um substantivo, com as respectivas traduções de “correr” e “pista”. Portanto, “currículo” pode ser entendido como “corrida”, “ato de correr” e “pista” de corrida (Tadeu da Silva, 2000).
Com isso, uma definição de currículo pode abranger, de forma inclusiva ou em uma perspectiva de exclusividade mútua, o que, como e em que condições ocorre o aprendizado. Essa abordagem permite uma compreensão mais abrangente do conceito de currículo.
Três concepções fundamentais compõem o currículo: o conteúdo, o método e o ambiente
Três concepções fundamentais – o conteúdo, o método e o ambiente – compõem o currículo, embora sua interpretação varie amplamente. Alguns o veem como a organização do conhecimento contido nas disciplinas escolares, outros como um modo de pensar e investigar os fenômenos do mundo, e ainda há quem o encare simplesmente como um conjunto de experiências acumuladas pelas sociedades, seja uma nação, uma etnia ou um grupo social.
Como um campo de investigação, o currículo abrange um discurso crítico e um método próprio, permitindo a compreensão de sua realidade essencial. Ele estabelece um objeto de estudo com uma linguagem distinta, moldada por percepções tanto objetivas quanto subjetivas. Originado da experiência, o currículo foi experimentado antes de ser teorizado e refletido.
Ao integrar as dimensões linguística, conceptual e comunicativa de um conceito, o currículo adquire a capacidade de apurar e transmitir seu significado tanto de forma geral quanto específica. A crescente influência do campo da Educação no século XX trouxe mudanças profundas ao conceito de currículo, tornando-o mais específico e diversificado, conduzindo-o a uma especialização crescente.
O surgimento do currículo como objeto específico de estudo e pesquisa nos Estados Unidos no início do século XX já prenunciava a multiplicidade de significados. Além de ser associado à aquisição de conhecimentos, passou a enfatizar a organização desses conhecimentos e a valorizar os “modos de pensamento”, buscando diminuir a distinção entre conteúdo e processo.
É comum afirmar que em 1918, o currículo deu um passo significativo como área de conhecimento com a obra de J. Franklin Bobbitt, que considerava a determinação do currículo como a tarefa científica primordial em educação. Sua abordagem técnica do currículo, exemplificada em obras como “Como Fazer um Currículo” de 1924, enfatizava a especificação precisa de objetivos, procedimentos e métodos para alcançar resultados desejados.
No decorrer deste século , o conceito de currículo expandiu-se consideravelmente, levando em conta não apenas a diversidade dos alunos e como eles aprendem, mas também seus interesses no que aprender, sempre com foco no produto final. O interesse central passou a ser a experiência do estudante: a definição de objetivos e a seleção de conteúdos deveriam promover o desenvolvimento de habilidades e competências alinhadas com os resultados desejados.
O conceito de currículo no final do século XX
No final do século XX, influenciados por preocupações econômicas e financeiras, mas também pela realização de metas individuais, teóricos e planejadores de currículo reorientaram seu foco não apenas para os resultados pretendidos, mas também para os processos envolvidos. Eles enfatizaram que os objetivos devem descrever os perfis de formação, delineando as competências que os alunos devem adquirir e aplicar em suas carreiras profissionais.
Essa abordagem exigia que o currículo explicitasse os métodos de ação necessários para alcançar esses objetivos, aproximando-o da didática e enfatizando os contextos de aprendizagem que incluem os meios para aprender. Essa orientação implicava em reformulações não apenas na natureza e organização dos conteúdos, mas também nos processos de ensino e aprendizagem.
Para Roldão (2003:18), “o currículo é a arena política e social onde se decide a inclusão e exclusão real dos indivíduos, independentemente do poder ou poderes subjacentes à definição e legitimação histórica e social de um determinado currículo e sua institucionalização em estruturas organizacionais”.
Agora, vamos analisar o conceito de currículo em três etapas: primeiro, enumeramos uma série de definições do termo, levando em consideração a diversidade de perspectivas que as originaram; em seguida, agrupamos essas definições de acordo com suas principais linhas, buscando construir o conceito que as sustenta; finalmente, após uma síntese crítica, selecionamos a definição que será a base das diretrizes para o desenvolvimento curricular a ser adotado.