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GESTÃO DO RISCO NA TEORIA

No caso específico da área financeira e económica, o risco é definido em termos de variação do retorno de um investimento com relação ao retorno esperado.

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Gestão do risco na teoria

O termo risco deriva do italiano antigo, da palavra risicare que significa atrever-se. Neste sentido, risco é uma escolha e não um destino. As ações que nos atrevemos a tomar, que dependem da nossa liberdade para fazer escolhas, são a essência da história do risco (Bernstein, 1996). Segundo Damodaran (2008), o risco está presente e faz parte de qualquer empreendimento humano. Ao longo do dia estamos expostos ao risco e este apresenta-se das mais variadas formas.

Alguns dos riscos com que nos deparamos não são voluntários, mas há outros que procuramos propositadamente porque deles advém algum tipo de recompensa, e grande parte das vezes, esta recompensa é apenas o prazer de ultrapassar dificuldades e desafiar limites. Em linguagem coloquial, a palavra risco refere-se à possibilidade de um acontecimento indesejável acontecer. Os termos essenciais nesta definição são “possibilidade” e “indesejável”(Porthin, 2004).

Contudo, no caso específico da área financeira e económica, o risco é definido em termos de variação do retorno de um investimento com relação ao retorno esperado (Knight, 1921). Também Williams et al. (Cit. por Porthin, 2004, p. 2) definem o risco como uma potencial variação nos resultados. Esta variação pode ser positiva (risco positivo ou favorável) ou negativa (risco negativo ou desfavorável). Pinho e Soares (2008) referem que em contexto económico-financeiro, o risco se traduz pela variância ou o desvio padrão da distribuição da taxa de rentabilidade associada a um título ou carteira de títulos.

A capacidade de gerir o risco e, associado a esta capacidade, a apetência para a tomada de risco e fazer escolhas futuras, são elementos chave que impulsionam o sistema económico.

Os Seres Humanos são por natureza avessos ao risco, apesar de por vezes agirem de forma inversa quando confrontados com a incerteza. As ferramentas de avaliação do risco tornaram-se mais sofisticadas, acompanhando a evolução do próprio risco que se multiplicou e tornou mais complexo. O que separa o sucesso do fracasso é a capacidade de ser sensato na escolha dos riscos a evitar e nos que se pretende explorar (Damodaran, 2008).

Tal como afirma Stulz (2000), referindo-se ao paradigma de Modigliani e Miller, numa economia sem qualquer tipo de atrito, a gestão do risco é uma atividade sem qualquer utilidade. Os shareholders podem ajustar o perfil de risco dos seus portfolios através da diversificação ou alteração dos seus bens e as empresas saudáveis, que sofrem choques imprevistos, podem sempre recorrer aos mercados financeiros para financiamento. Portanto, o único motivo pelo qual uma empresa deveria gerir os riscos financeiros é porque ao fazê-lo os seus donos e shareholders teriam uma situação melhor (Stulz, 2000).

Os riscos a que a empresa está exposta podem e devem ser geridos no sentido de reduzir a probabilidade e o impacto de eventuais perdas e custos bem como, simultaneamente, aumentar a probabilidade de retorno em áreas de risco. A maioria das organizações efetua gestão do risco (financeiro ou não) sendo este, explícita ou implicitamente, uma componente estratégica que faz parte do seu próprio desenvolvimento, para isso as empresas utilizam seguros, tentam prevenir acidentes de trabalho, testam o impacto ambiental de vários produtos, entre outros. Em termos abrangentes, pode-se considerar a gestão do risco como um conjunto de atividades e métodos coordenados, utilizados por uma organização no sentido de controlar e reduzir qualquer risco que possa afetar a sua capacidade de atingir os objetivos que definiu (Porthin, 2004).

Teller e Kock (2013) defendem que o principal objetivo da gestão do risco é a diminuição dos efeitos negativos dos riscos a que a organização está exposta, o que é feito através do reconhecimento e da gestão das ameaças, no sentido de prevenir potenciais perdas e aumentar o poder de resposta das organizações.

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Categorias de riscos enfrentados por uma empresa

O primeiro passo a tomar no sentido de gerir o risco é perceber a que tipo de riscos a organização está exposta. Nesse sentido, é necessário examinar quer os riscos imediatos decorrentes da competição e das alterações nos mercados, quer os riscos indiretos resultantes dos efeitos macroeconómicos. A categorização dos riscos organiza-os em grupos e é um passo chave na determinação das ações a tomar para lidar com os mesmos. De acordo com Damodaran (2008), as categorias relevantes de risco são as seguintes:

  • Risco de Mercado versus Risco específico da empresa – esta categoria compreende riscos que afetam uma grande parte ou todas as empresas (risco de mercado) e uma pequena parte das empresas (risco específico);
  • Risco operacional versus risco financeiro – nesta categoria incluem-se os riscos que derivam das atividades ligadas ao negócio básico e que envolvem compras, transformações, recursos e vendas de produtos ou serviços e os riscos decorrentes das opções financeiras da empresa;
  • Risco contínuo versus risco eventual – alguns riscos estão presentes de forma continuada enquanto que outros riscos se encontram inativos por longos períodos e manifestam-se infrequentemente através de eventos desagradáveis que acarretam consequências económicas;
  • Riscos catastróficos versus pequenos riscos – alguns riscos têm um impacto relevante para a empresa e podem assumir proporções desastrosas enquanto que outros são diminutos e têm um efeito relativamente pequeno no valor e nos lucros da empresa, no entanto, a definição de pequeno e grande risco varia de empresa para empresa.

Entretanto, Stulz (2000) agrupa os riscos com que uma empresa se depara da seguinte forma:

  • Riscos sistemáticos: são comuns à maioria das empresas, podem incluir os riscos de flutuação inerentes aos ciclos de negócio;
  • Riscos idiossincráticos: são específicos de cada empresa e podem incluir situações como o risco de que os seus produtos não funcionem corretamente ou de que as instalações se incendeiem.

Já Lleo (2009) categoriza os riscos financeiros da seguinte forma:

  • Risco de Mercado: risco que é comum a um tipo de bens. O valor dos investimentos pode diminuir ao longo de um determinado período de tempo simplesmente porque existem alterações económicas ou acontecimentos que têm impacto numa grande parcela do mercado;
  • Risco Operacional: este tipo de risco decorre das operações normais da empresa, o que inclui as pessoas, os sistemas e os processos utilizados pela empresa no decurso da sua laboração;
  • Risco de Crédito: é o tipo de risco em que incorre um investidor e que pode levar a perdas se os pagamentos dos devedores não forem devidamente efetuados;
  • Risco de Liquidez: o risco de um determinado bem não poder ser vendido com a rapidez necessária ou não apresentar o retorno expectável num curto período de tempo;
  • Risco de Reputação: danos causados na reputação da empresa têm um forte impacto negativo que pode culminar na perda de retorno.

Sendo uma verdade universal que a existência de risco implica a existência do fracasso, nem todos os tipos de risco são idênticos, nem todos os fracassos são criados da mesma forma ou têm o mesmo impacto. Na verdade, o fracasso pode ocorrer por diversos motivos, cada um dos quais dá ensinamentos distintos no que respeita à gestão do risco. Neste contexto, Haubrich (2001) apresenta três categorias de risco:

  • Um dos tipos de risco envolve uma falha no controlo de gestão. Neste caso, a empresa suporta mais risco do que pretendia e sofre as consequências.
  • Outra categoria consiste nos casos em que a gestão assume riscos deliberadamente e perde. Assume o nível de risco pretendido mas obtém um resultado negativo.
  • A terceira possibilidade é um pouco mais subtil. A empresa assume um nível de risco que é considerado como ideal a nível privado (a gestão reconhece e aceita a sua exposição) mas o nível de risco não é aceite socialmente. A distinção entre os aspetos privado e social do risco permanece nebulosa. Uma empresa pode decidir assumir um determinado nível de risco que seja justificável para a própria mas que para a sociedade tenha um grande impacto e não seja facilmente explicável. O autor dá o exemplo do risco assumido por determinados bancos sem que estes tenham em consideração o efeito negativo que terão noutros bancos em caso de fracasso e a ramificação social que isto implica. O facto de as empresas não considerarem o impacto social das suas decisões a respeito do risco tornam os fracassos em algo que se pode disseminar e afetar toda a economia.

Suomien (Cit. por Porthin, 2004, p.10) refere que a gestão do risco é uma atividade que engloba a identificação dos riscos, prevê o seu impacto e toma medidas apropriadas para reduzir ou cobrir estes riscos. Este processo pode ser

dividido em quatro passos: em primeiro lugar, os riscos são identificados e avaliados, normalmente chama-se a este processo análise do risco; a partir daqui os métodos potenciais para reduzir o risco são desenvolvidos e avaliados; quando toda a informação está reunida, podem ser tomadas decisões de gestão do risco; finalmente, o processo interativo conclui-se com a avaliação das soluções implementadas. Na prática, estes passos são raramente isolados, mas podem ser tratados simultaneamente devido a atividades que se sobrepõem.

Suominen (Cit. por Porthin, 2004, p.10) ressalva que o propósito do primeiro passo da gestão do risco é identificar todos os riscos relevantes para a situação em estudo, existindo diversas técnicas disponíveis para auxiliar no processo. Para identificar diferentes riscos e para visualizar quais são já conhecidos e corretamente geridos pode ser utilizada uma janela do risco. Quando uma lista inicial dos riscos potenciais é completada, os riscos são filtrados de forma a decidir quais podem ser negligenciados e quais devem ser analisados mais profundamente.

No segundo passo do processo, a avaliação do risco, a probabilidade da ocorrência e as consequências dos riscos relevantes são avaliadas. Isto envolve normalmente a utilização de modelos que descrevem as dependências das incertezas e métodos de análise tais como as simulações.

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Diferentes decisões de gestão do risco

Quando os riscos são conhecidos, devem ser escolhidas medidas de gestão apropriadas. Frequentemente, o efeito dos diferentes métodos de gestão do risco que podem potencialmente ser usados, pode ser avaliado utilizando os mesmos métodos que se usam nos passos da avaliação do próprio risco, portanto, estas atividades estão interligadas. Suominem, Weber e Liekweg (Cit. por Porthin, 2004, p.12) categorizam as diferentes decisões de gestão do risco da seguinte forma:

  • Evitar – evitar os riscos é uma forma simplista de efetuar a gestão do risco. A adequabilidade desta medida deve ser considerada cuidadosamente antes de a aplicar, embora seja de notar que evitar nem sempre aumenta os custos ou reduz as possibilidades. Se evitar não for, no entanto, desejável ou possível, devem ser consideradas outras formas de gestão do risco;
  • Aceitar – por vezes é aconselhável aceitar os riscos tais como são; é o caso quando um risco faz parte de uma função nuclear da organização e as oportunidades se sobrepõem ao risco. Esta é uma estratégia normalmente utilizada para riscos insignificantes em que a relação custo-benefício de utilizar qualquer uma das outras opções não compensaria a empresa;
  • Compensar – os riscos podem ser compensados, assumindo um risco para compensar outro. Este é um método comum em finanças para reduzir a exposição. Por exemplo, flutuações nas taxas de câmbio ou de juros podem ser compensadas através de instrumentos derivados como os “futuros”;
  • Transferir – o risco pode ser transferido para outro interveniente através de seguros ou contratos com outros parceiros. Este é um procedimento comum quando se lida com riscos de transporte mas faz também parte de acordos para alianças estratégicas;
  • Reduzir – usam-se medidas que procuram reduzir a probabilidade de um evento indesejado acontecer ou de limitar o seu impacto. Existem vários métodos e meios técnicos disponíveis. Por exemplo: firewall, backups e implementação de limites de risco.

Depois de implementadas, estas decisões devem ser monitorizadas de forma a determinar a sua eficiência e custo (Porthin, 2004).

Contudo, Stulz (1996) refere que a literatura académica se concentra na redução da volatilidade enquanto objetivo principal da gestão do risco e na variância enquanto principal medida do risco. No entanto, mais do que tentar diminuir a variância, grande parte dos programas de gestão do risco financeiro parecem desenvolvidos apenas para evitar resultados negativos enquanto preservam potencial positivo. Algumas empresas farão a cobertura de certos riscos como forma de aumentar os seus rácios de alavancagem ou para aumentar as suas exposições financeiras destinadas a explorar as suas vantagens competitivas na tomada de risco.

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De que forma pode uma empresa determinar se deve ou não assumir riscos?

A melhor abordagem, segundo Stulz (1996), é a implementação de uma auditoria de risco. Esta envolveria uma revisão dos riscos aos quais a empresa está exposta, quer através dos seus instrumentos financeiros e estrutura de garantias, quer através das suas operações correntes. Uma auditoria deste tipo teria como finalidade responder a questões como a seguinte:

  • Quais os maiores riscos que a empresa é capaz de auto assegurar ao longo de um ciclo de negócio?
  • Se a empresa decide fazer cobertura seletiva ou assume exposições, qual é a fonte da vantagem comparativa em assumir estas posições?
  • Quais das atividades de gestão do risco acrescentaram valor sistematicamente sem introduzir uma nova fonte de volatilidade?

Uma vez que uma empresa decida ter vantagem comparativa em assumir um determinado tipo de risco financeiro, deve então determinar qual o papel da gestão do risco em explorar esta vantagem.

Nocco e Stulz (2006) afirmam que a gestão do risco financeiro é, nos dias de hoje, mais do que uma questão de seguros e de hedging de exposições financeiras, passando a incluir uma grande variedade de outros riscos, tais como o risco operacional, o risco de reputação e o risco estratégico. Segundo os autores, uma empresa pode gerir riscos de uma de duas formas identificadas:

  1. –  Um risco de cada vez, de forma compartimentada e descentralizada;
  • –   Todos   os   riscos   considerados   de   uma   forma   global,     dentro        de   um enquadramento coordenado e estratégico.

Os autores designam esta última forma como ERM – Enterprise Risk Management, sugerindo que as empresas que consigam criar um ERM eficiente terão a longo prazo uma maior vantagem competitiva sobre aquelas que gerem os seus riscos de forma individual e compartimentada. Ao medir e gerir os seus riscos de forma consistente e sistemática, e ao disponibilizar aos seus gestores informação e incentivos que otimizem o trade off entre risco e retorno, uma empresa fortalece a sua capacidade de cumprir com o seu plano estratégico.

De forma genérica, quando efetua decisões acerca de assumir ou cobrir determinados riscos, a empresa deve consistentemente ser guiada pelo princípio da vantagem comparativa no hedging do risco. Resumindo, esse princípio determina que uma empresa que não detenha uma capacidade de previsão das variáveis do mercado, não terá qualquer vantagem comparativa em assumir o risco associado a essas mesmas variáveis. De forma inversa, a mesma empresa terá vantagem

comparativa em assumir outros riscos caso possua informação privilegiada acerca das variáveis em que incorre ao assumir o risco.

É importante ter presente que as empresas estão no mercado para assumir riscos estratégicos e de negócios. O reconhecimento de que não existe uma forma económica de transferir riscos que são inerentes às operações da empresa pode ser usado como forma de determinar quais os riscos que aportam uma maior potencial vantagem (Nocco e Stulz, 2006).

Uma característica inegável das últimas décadas é uma maior preocupação com a volatilidade nas taxas de câmbio, taxas de juro, preços de mercado das matérias-primas e dos valores mobiliários, comparativamente com o que acontecia nas décadas anteriores. Estas flutuações nos preços financeiros podem ter efeitos significativos nas fortunas das empresas (Bodnar e Gebhardt, 1999).

O conceito de risco é abrangente e envolve a análise dos riscos a que a empresa está exposta, a identificação de fatores de risco relevantes e a decisão de quais os riscos a gerir, evitar, aceitar ou cobrir. Por outro lado, o conceito de hedging é mais específico e envolve “apenas” uma ação deliberada no sentido de reduzir ou eliminar determinados riscos utilizando a gestão dos ativos da empresa, derivados financeiros e medidas operacionais (Aretz, Bartram e Dufey, 2007).

De acordo com Damodaran (2008), a grande parte das ofertas em gestão do risco são na verdade produtos de redução do risco e de hedging, com muito pouco ou nenhum enfoque na exploração das potencialidades e do valor acrescentado associado ao risco. Especialmente em finanças, a visão do risco tem-se vindo a estreitar cada vez mais, aproximando-se cada vez mais apenas de hedging atingindo uma situação em que este é definido estatisticamente e visto como algo de negativo quando se trata de analisar valor.

Este estreitamento da visão de risco resulta de vários fatores; por um lado, os produtos financeiros apresentados como de “gestão do risco”, serem na verdade produtos de hedging (quer se trate de seguros, de derivados ou swaps). Uma vez

que estes produtos representam retornos substanciais para quem os oferece 1 , tornam-se na peça central da gestão do risco; por outro lado, a natureza humana e a capacidade do ser humano de se recordar mais das perdas (lado negativo do risco) do que do lucro (lado positivo). Num ambiente de recentes calamidades e problemas graves nos mercados, os produtos de hedging assumem relevância adicional (Damodaran, 2008).

Stulz (1996) sugere que uma prática conhecida como selective hedging, está a ganhar popularidade face ao full cover hedging. Na verdade, algumas empresas podem até conseguir vantagens competitivas ao assumir determinados riscos; desta forma há outra finalidade para a gestão do risco: a de reduzir os custos expectáveis de problemas financeiros, a par da preservação da capacidade da empresa de explorar e tirar partido de assumir determinados riscos selecionados.

Fonte:

Roque, M. da C. G. S. (2015). Utilização de produtos derivados para cobertura do risco: O caso das maiores empresas portuguesas (Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão). http://hdl.handle.net/10400.22/5746

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