O termo “mediateca” é cada vez mais utilizado para descrever um novo tipo de biblioteca, especialmente nos Estados Unidos, França, Portugal e República de Angola.
O termo “mediateca” é cada vez mais utilizado para descrever um novo tipo de biblioteca, especialmente nos Estados Unidos, França, Portugal e República de Angola.
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ToggleAs bibliotecas não são alheias aos impactos sociais e culturais provocados pelas tecnologias de comunicação e informação. Devido a isso, elas passaram por diversas transformações: no conceito, nas funções, nos serviços e no tipo de acervo que oferecem, indo além dos livros impressos e incorporando diferentes tipos de mídias, das tradicionais às mais contemporâneas. Todas essas mudanças refletem a realidade de cada época.
Nesse processo evolutivo, as bibliotecas se diversificaram tanto pelo tipo de material que reúnem quanto pelo tipo de usuário que atendem. Em relação ao material, existem bibliotecas especializadas em periódicos (hemerotecas), filmes (filmotecas ou cinematecas), partituras musicais, textos em braile, discos (discotecas), vídeos (videotecas), materiais didáticos e gibis (gibitecas). Quanto aos usuários, há bibliotecas públicas (abertas à comunidade em geral), escolares e universitárias (para estudantes e professores), especializadas (para estudiosos e pesquisadores) e especiais (para grupos específicos de usuários) (BRIQUET DE LEMOS, 2005).
O surgimento de novos e diferentes suportes de informação deu origem a um novo termo ou conceito de biblioteca: a mediateca. É importante destacar que essa terminologia está sendo usada para denominar instituições historicamente conhecidas como bibliotecas.
O termo mediateca tem sido amplamente utilizado, e em alguns lugares como a França e a República de Angola, ele já é central, com suas bibliotecas públicas sendo rebatizadas como mediatecas. No Brasil, algumas instituições também adotaram essa terminologia, como a mediateca da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Assim, a proposta deste trabalho é evidenciar o novo modelo de biblioteca ou a evolução desta, partindo da questão: trata-se de uma nova terminologia ou de um conceito ampliado de biblioteca? É a evolução da biblioteca tradicional? Já faz parte da nossa realidade?
Esta pesquisa surgiu a partir de um trabalho de conclusão de curso, Silva (2011), cujo principal objetivo era verificar o que estava sendo produzido pelos estudantes de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão. Constatou-se que muitas temáticas já haviam sido amplamente exploradas, enquanto outras foram esquecidas, entre elas: a mediateca.
O termo “mediateca” é cada vez mais utilizado para descrever um novo tipo de biblioteca, especialmente nos Estados Unidos, França, Portugal e República de Angola. Esta denominação ressalta a inovação na biblioteca, integrando novos suportes informacionais como DVDs, vídeos e discos ópticos.
De origem francesa, “mediateca” começou a ser usado nos anos 70. Lucianni (2008) destaca dois eventos principais que impulsionaram seu uso. O primeiro foi a renomeação da Biblioteca Pública para Associação de Desenvolvimento das Bibliotecas Públicas de Mídias. O segundo foi uma decisão política da Câmara Municipal da Cidade de Metz, no nordeste da França, visando eliminar a imagem de poeira associada às bibliotecas francesas.
Antes dessa mudança, as bibliotecas na França estavam atrasadas em comparação aos padrões anglo-americanos de Bibliotecas Públicas. Lucianni (2008) atribui isso à forma de armazenar os acervos, que os tornava inacessíveis, e ao fato de que os materiais disponíveis atendiam apenas a um público exclusivo de intelectuais, estudantes e professores, incapazes de responder às necessidades de todos.
Para enfrentar essa realidade, houve um movimento envolvendo bibliotecários e líderes culturais nacionais, que culminou na decisão de desenvolver um novo conceito de biblioteca moderna. A primeira medida foi a mudança de nome de biblioteca para mediateca.
Segundo Lucianni (2008), o termo “biblioteca” tinha conotações negativas, associado a lugares fechados, empoeirados e intimidadores. O termo “mediateca” passou a ser usado para designar uma nova biblioteca pública contemporânea, focada em diferentes suportes de informação, onde o livro não é mais o centro, incluindo diversos tipos de mídias em seu acervo.
A ideia de mediateca se consolidou à medida que os conteúdos audiovisuais ganharam a mesma importância que os livros como transmissores de informação e conhecimento. Inicialmente, o termo designava um espaço dentro da biblioteca para acesso à informação digital e à Internet (Cairo, 2007). Hoje, designa edifícios inteiros, como a Mediateca do Sendai, a Mediateca do Itaú Cultural, a Mediateca da PUC-RJ e as Mediatecas da República de Angola.
Nos Estados Unidos, onde os sistemas bibliotecários são mais desenvolvidos, o termo “biblioteca” foi mantido, mas com o tempo surgiu o termo composto “biblioteca multimídia”, refletindo o crescimento do material audiovisual.
Os audiovisuais, ou multimeios, ainda não têm uma terminologia padronizada, mas são os principais responsáveis pelas mudanças no conceito e na denominação das bibliotecas. Segundo Briquet de Lemos (2005), uma mediateca é uma instituição voltada para a reunião, organização e uso de multimeios como fitas de vídeo, fitas sonoras, CDs, DVDs e filmes.
Embora haja muitas definições de mediateca, a literatura científica sobre o tema é escassa, especialmente na literatura brasileira. Uma busca no Google pelo termo “mediateca” resulta em aproximadamente 197.000 resultados, mas poucos são artigos científicos. Nesterov (1991) argumenta que a mediateca é a biblioteca do século XXI, incorporando diversos meios como texto, fala, música, desenhos, fotos, cinema, vídeo e materiais digitais.
Labayen (1986) afirma que a palavra “mediateca” deriva de “medios”, ou meios de comunicação social, e que o confronto entre os termos “mediateca” e “biblioteca” começou quando o livro teve que dividir sua função com outras tecnologias informacionais. Nesterov (1999) observa que bibliotecas modernas bem equipadas tecnicamente e com coleções de vídeos e audiogravações começaram a se chamar mediatecas, enfatizando a necessidade de uma infraestrutura computacional desenvolvida.
A transformação das bibliotecas em mediatecas na França, modelo para muitos países, teve como metas diversificar a oferta e aumentar a frequência de usuários, não apenas através das novas medias, mas também pela concepção e organização de espaços diferenciados dentro da biblioteca (Lucianni, 2008). Não foi apenas uma mudança de nome, mas uma evolução nos serviços oferecidos.
A mediateca e a biblioteca possuem uma ligação estreita, complementando-se mutuamente. A mediateca não emergiu de maneira independente, mas sim como uma evolução natural da biblioteca tradicional. Como Cairo (2007, p.1) destaca, “a biblioteca deu origem à mediateca à medida que foi incorporando e adaptando novos espaços para a entrada de computadores […] como terminais para consulta de informações.”
O projeto Rede de Mediateca de Angola (ReMA), detalhado no Memorando da República de Angola (2010, p.6), visa estabelecer vinte e cinco mediatecas em todo o país. Atualmente, já estão em funcionamento unidades em Benguela, Huambo, Luanda, Lugano, Saurino e Soyo. Este projeto busca acompanhar os avanços da sociedade da informação. Conforme o memorando:
“[…] grande parte das mediatecas que hoje vemos não foi criada de raiz, mas sim fruto da adaptação das bibliotecas existentes, devido à reconhecida e inevitável necessidade de se adequar ao progresso tecnológico que se firmou nas sociedades atuais.”
Nos dias de hoje, a expressão “biblioteca do futuro” é frequentemente substituída por “mediateca”. Este termo é amplamente adotado em países como França, Alemanha, Áustria, Holanda, Espanha, Portugal e em nações de língua portuguesa, conforme indica o Portal Rede de Mediatecas de Angola.
De acordo com o Portal Rede de Mediatecas de Angola (2012), o conceito de mediateca tem origem francesa, emergindo nas décadas de 1970 e 1980, durante um período significativo na evolução das bibliotecas francesas.
Foi nessa época que conteúdos audiovisuais, como documentos sonoros e registros em vídeo, começaram a ser considerados tão importantes quanto os livros. Esta mudança foi uma estratégia para diversificar os recursos disponíveis e atrair um público mais amplo.
Espaço
Função
Acervo
Público
Horário de Funcionamento
A visão tradicional da biblioteca é de um espaço dedicado à pesquisa e estudo, utilizado principalmente para fins acadêmicos ou escolares. Por outro lado, a mediateca é percebida como um ambiente multifuncional que vai além da pesquisa, servindo também como um local de lazer, encontro e descontração.
Ambas as instituições têm a missão de preservar e democratizar o conhecimento. No entanto, a mediateca se destaca por integrar tecnologias da informação e ensinar seus usuários a utilizá-las, promovendo a inclusão digital.
Embora as bibliotecas modernas incluam materiais multimídia em seus acervos, esses recursos muitas vezes são subutilizados, com os usuários preferindo o livro impresso. Em contraste, nas mediatecas, o acervo multimídia é central e amplamente acessível aos usuários.
Os frequentadores das bibliotecas públicas são predominantemente estudantes e pesquisadores, que tendem a deixar de utilizá-las após a conclusão de seus estudos. Essa tendência foi destacada por uma pesquisa do Instituto Pró-Livro (2011), mostrando que a maioria dos frequentadores são estudantes.
As bibliotecas tradicionais podem parecer menos atraentes para o público em geral devido à ênfase nos livros impressos e à falta de serviços inovadores. As mediatecas, com sua oferta diversificada de suportes de informação e tecnologias, atraem um público mais amplo. Além disso, sua flexibilidade de horários, incluindo funcionamento nos fins de semana, torna-as mais acessíveis a trabalhadores que têm tempo livre apenas nesses dias.
O projeto da Rede de Mediatecas de Angola está se tornando um modelo internacional, com várias instituições ao redor do mundo adotando conceitos semelhantes, embora possam utilizar nomes diferentes. Exemplos incluem a Biblioteca Parque de Manguinhos e as bibliotecas da Indústria do Conhecimento do SESI, que também centralizam seus acervos em suportes multimídia.
A Biblioteca Parque de Manguinhos, situada na periferia do Rio de Janeiro, na comunidade de Manguinhos, é pioneira no Brasil como a primeira biblioteca parque do país, inaugurada em abril de 2010. Anteriormente, ocupava o espaço de uma antiga Divisão de Armamentos do Exército. Segundo Aranha (2010, p.1), “Manguinhos agora possui a maior concentração de equipamentos culturais da cidade, contando com 25 mil livros, 3 milhões de músicas em arquivos MP3, 900 filmes em DVDs, e diversos brinquedos”.
A proposta da Biblioteca Parque de Manguinhos é inovadora, visando oferecer à comunidade um espaço acolhedor, livre de preconceitos literários e, principalmente, uma opção de lazer. Inspirada em experiências bem-sucedidas em países com políticas culturais fortes, como França, Chile e Colômbia, Manguinhos foi modelada com base nessas referências (Aranha, 2010, p.1).
Na Biblioteca Parque de Manguinhos, os visitantes têm acesso livre às estantes de livros, à internet, podem assistir filmes, ouvir música, participar de diversas atividades culturais e solicitar empréstimos de livros e filmes. A biblioteca está organizada em diferentes espaços, como Ludoteca, Filmoteca, Sala de Leitura para portadores de deficiência visual, Acervo Digital de Música, Cine Teatro, Cafeteria, Acesso à Internet gratuito, e Sala Meu Bairro para reuniões comunitárias.
De acordo com Meyer (2012, p.2), “a proposta da biblioteca é promover o gosto pela leitura, considerando outras mídias não como concorrentes, mas como complementares na formação de leitores”.
Outro exemplo relevante é a Indústria do Conhecimento do SESI, que se destaca por não centralizar sua oferta apenas em livros impressos, sendo chamada de centros de multimeios. Este projeto, iniciado em 2006 em parceria com o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e parceiros locais, visa promover o acesso à informação e cultura em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Inspirado nos Community Multimedia Centres (CMC) apoiados pela UNESCO, o projeto combina estratégias convencionais de acesso à informação, como livros impressos, com recursos digitais, incluindo acesso à internet (Documento Técnico, 2007).
A biblioteca da Indústria do Conhecimento do SESI oferece uma ampla variedade de recursos, incluindo DVDs de filmes, revistas e jornais, com o objetivo de facilitar o acesso a diferentes formas de expressão cultural e promover o desenvolvimento pessoal (Crispim, 2009, p.209).
Esses exemplos representam uma nova concepção de biblioteca no Brasil, assemelhando-se ao conceito de mediateca, onde buscam integrar uma ampla gama de recursos em um único espaço, aliando infraestrutura moderna e serviços inovadores para atender às necessidades do público atual.
A análise inicial deste estudo buscava compreender o motivo pelo qual o termo “mediateca” tem sido frequentemente adotado para se referir a instituições que tradicionalmente eram conhecidas como bibliotecas. Ficou evidente que essa mudança de terminologia reflete de maneira mais abrangente a diversificação do acervo dessas instituições, especialmente com a inclusão de documentos audiovisuais. Enquanto o termo “biblioteca” historicamente se limita à ideia de um local que armazena livros, o termo “mediateca” engloba todos os meios de comunicação, abrangendo todas as formas de registro da informação.
Essa transição de terminologia representa um novo conceito de biblioteca. Enquanto a palavra “biblioteca” evoca a imagem de um espaço empoeirado, destinado apenas ao estudo e armazenamento de livros, a mediateca é percebida como um local mais dinâmico, que oferece uma variedade de mídias informativas e acesso às mais recentes tecnologias. É um ambiente não só para estudo, pesquisa e encontro, mas também para o lazer. Sua flexibilidade nos horários de funcionamento, incluindo fins de semana, é fundamental para atrair um público diversificado além dos estudantes.
Embora a mediateca e a biblioteca sejam essencialmente a mesma instituição, a adoção do novo termo para algumas delas reflete a necessidade de demonstrar evolução e adaptação às mudanças sociais. Isso não é algo novo, visto que ao longo do tempo, as bibliotecas têm sido chamadas por diferentes denominações, como unidades de informação ou centros de documentação, tudo isso para se afastar da imagem de estantes empoeiradas de livros.
O conceito de mediateca já é uma realidade, como evidenciado pelas bibliotecas mencionadas neste estudo, como a Biblioteca Parque de Manguinhos e as bibliotecas da Indústria do Conhecimento do SESI. Embora possam não adotar explicitamente o termo “mediateca”, sua estrutura de acervo e funcionamento refletem o modelo de biblioteca do futuro, que integra uma ampla gama de recursos e serviços para atender às necessidades da sociedade contemporânea.
Aranha, G. (2010). Um país que se fez de homem, mas sem livros. Recuperado de http://glaucioaranha.blogspot.com.br
Briquet de Lemos, A. A. (2005). Bibliotecas. In B. S. Campello & P. da T. Caldera (Orgs.), Introdução às fontes de informação (pp. xxx-xxx). Belo Horizonte: Autêntica Editora.
Cairo, C. R. (2012). La mediateca, una obra de la informática del nuevo siglo. Recuperado de http://www.sociedadedelainformacion.com
Crispim, A. C. (2009). Relato de experiência: Biblioteca TUPY SESI, projeto Indústria do Conhecimento. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, 14(1), 206-215. Recuperado de http://www.brapci.ufpr.br/
Instituto Pró-Livro. (2011). Retratos da leitura no Brasil (3a ed.). Recuperado de http://www.prolivro.org.br
Labayen, J. B. O. (1985). Perfiles de las bibliotecas del futuro. ANABAL, 4, 493-506. Recuperado de http://dialnet.unirioja.es/servlet/autor?codigo=268351
Luciani, L. (2008). Dalla Biblioteca alla Mediateca: scenari di educazioni ai media con un progetto territoriale [Tese de doutorado, Universidade de Pádua, Itália]. Recuperado de http://paduaresearch.cab.unipd.it/945/
Meyer, T. (2012). As novas bibliotecas. Recuperado de http://www.planetasustentavel.abril.com.br
Nesterov, A. V. (1991). Em direção à midiateca. Ciência da Informação, 20(2). Recuperado de http://www.brapci.ufpr.br/
Raumel, F. (2012). Os fatores de sucesso de uma premiada Biblioteca Pública alemã: Biblioteca Pública de Biberach. Recuperado de http://www.slideshare.net/crb8sp/apresentao-da-palestra-os-fatores-de-sucesso-de-uma-premiada-biblioteca-alema
República de Angola. Comissão executiva da Rede de Mediatecas de Angola. (2010). As mediatecas na República de Angola: memorando conceptual e estratégico. Luanda. Recuperado de http://www.mediatecas.ao
Serviço Social da Indústria (Brasil). (2007). Documento Técnico: Indústria do Conhecimento. Brasília. Recuperado de http://cdij.pgr.mpf.gov.br/noticias/palestra
Exemplos de bibliotecas com o conceito de mediateca em Mocambique
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