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AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

Entre as principais correntes teóricas da Antropologia, destacam-se o evolucionismo, o difusionismo e o culturalismo.

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I. INTRODUÇÃO

A Antropologia, como disciplina que busca compreender a complexidade e diversidade da experiência humana, tem sido moldada e enriquecida ao longo do tempo por diversas correntes teóricas. Este trabalho visa explorar e analisar essas correntes, delineando os caminhos intelectuais que antropólogos têm trilhado para decifrar os enigmas da cultura, sociedade e comportamento humano.

Ao mergulharmos nas diferentes perspetivas teóricas que permeiam a Antropologia, desde o evolucionismo até o culturalismo, pretendemos não apenas traçar a evolução dessas correntes ao longo dos séculos, mas também compreender como cada abordagem contribui para a construção do vasto mosaico que é o conhecimento antropológico.

Em última análise, a investigação dessas correntes teóricas não só lança luz sobre as transformações sociais e culturais ao redor do mundo, mas também nos desafia a refletir sobre a natureza multifacetada da condição humana.

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1.1. Objetivo geral:

  • Compreender as correntes teóricas da Antropologia.
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1.2. Objetivos específicos

  • Identificar as correntes teóricas da Antropologia.
  • Descrever as correntes teóricas da Antropologia.
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II. AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

As correntes teóricas da Antropologia oferecem um panorama de perspetivas e abordagens que influenciaram significativamente a compreensão da diversidade cultural e social ao longo da história. Entre as principais correntes teóricas da Antropologia, destacam-se o evolucionismo, o difusionismo e o culturalismo.

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2.1.  Evolucionismo

O termo Evolucionismo é derivado do conceito de “Evolução” e surgiu durante a segunda metade do século XIX. Sua base está na crença na unidade de gênero e no avanço das civilizações, proposta por Condorcet e apoiada no transformismo de Lamarck e nas pesquisas de Darwin sobre a seleção natural e a origem das espécies.

Naquela época, acreditava-se amplamente que a sociedade humana passava por uma progressão da simplicidade à complexidade, com melhorias em vários aspetos, como sistemas sociais, economia, política, estruturas familiares e religião. Consequentemente, grupos rotulados como “atrasados”, “inferiores” ou “primitivos” eram vistos como representantes de estágios anteriores de sociedades mais avançadas (Moutinho, (1980).

Nas sociedades avançadas, os valores dominantes incluem a produção económica, a religião monoteísta, a propriedade privada, as famílias monogâmicas e a moralidade vitoriana, enquanto nas sociedades menos desenvolvidas, os sistemas de troca não mercantis, o politeísmo, a propriedade coletiva, a poligamia e vários outros sistemas continuam a persistir.

Dentro da corrente de evolução, emergem dois padrões discerníveis: uma perspetiva filosófica que atribui propósito à história, caracterizada pela convicção na trajetória ascendente da civilização, e um método de compreensão da história através da influência de fatores dominantes, incluindo biológicos, tecnológicos, económicos. e elementos espirituais.

Segundo Moutinho (1980), vários teóricos propuseram estágios distintos para ilustrar essa progressão. Morgan, por exemplo, descreve os estágios da selvageria, da barbárie e da civilização. Marx, por outro lado, identifica os estágios da sociedade escravista, do feudalismo, do capitalismo e do socialismo. Comte, em sua análise, categoriza os estágios como teológicos, metafísicos e positivos.

2.1.1. Percursores

Lewis Morgan, figura proeminente no campo do evolucionismo, distingue-se entre autores notáveis. Em seu influente trabalho “The Archaic Society”, publicado em 1877, Morgan apresenta uma estrutura abrangente da evolução humana que consiste em três fases distintas: selvageria, barbárie e civilização. Cada fase é subdividida em períodos antigo, médio e recente, caracterizados por avanços tecnológicos significativos, como agricultura, comércio e indústria.

Edward Burnett Tylor, conhecido por sua publicação “Cultura Primitiva” em 1871, explora a progressão do animismo, bruxaria, politeísmo e monoteísmo na evolução das religiões. Da mesma forma, James George Frazer, em sua obra “The Golden Bough” publicada em 1890, investiga o estudo dos mitos, do totemismo e dos sacrifícios do rei divino, concluindo em última análise que a ciência retifica a religião, que se origina da magia primordial.

2.1.2. Críticas ao evolucionismo

O advento do evolucionismo desempenhou um papel fundamental na formação do campo da etnologia, ao introduzir investigações científicas e terminologia especializada. Este movimento procurou elucidar as características partilhadas entre as diferentes sociedades e descobrir os padrões que governam o desenvolvimento cultural.

No entanto, as suas interpretações das sociedades antigas justificaram inadvertidamente a colonização, uma vez que desafiou a noção de uma progressão linear na história humana e, em vez disso, reconheceu a existência de diversas civilizações espalhadas por localizações geográficas.

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2.2. Difusionismo

Emergindo no início dos anos 1900, o difusionismo, também conhecido como historicismo, surgiu como uma resposta aos princípios do evolucionismo, defendendo a ideia de que os traços culturais estão distribuídos geograficamente.

Segundo os difusionistas, os traços culturais originam-se de fontes específicas e depois se espalham por meio de uma série de intercâmbios entre diferentes grupos (Santos, A. (2002). Esses estudiosos realizaram pesquisas científicas pioneiras sobre o movimento dos traços culturais, explorando seus caminhos, velocidade, áreas de difusão, transformações, obstáculos e condições favoráveis.

2.2.1. Percursores

Existem três escolas notáveis ​​​​que desempenharam um papel significativo no avanço do difusionismo. Estes incluem a escola britânica, também conhecida como pan-egípcia ou heliolítica. Grafton Elliot Smith (1871-1937) e seu aluno WJ Perry foram as figuras proeminentes que representaram esta escola. Suas ideias e teorias podem ser exploradas em seus trabalhos intitulados “A Migração das Culturas” e “Antigo Egito e as Origens das Civilizações”.

A escola germano-austríaca, também conhecida como escola histórica de Viena, acredita que a cultura de todo o mundo moderno remonta ao Antigo Egito como sua principal fonte de difusão. Figuras proeminentes desta escola incluem Ratzel, Leo Frobenius, Fritz Graebner e Wilhelm Schmidt.

A sua contribuição para a área inclui a introdução do conceito de área cultural ou círculo cultural, que explica como os traços culturais são difundidos através de interações e empréstimos. Outra escola de pensamento, conhecida como escola norte-americana e representada por Franz Boas, Alfred Louis Kroeber e Clark Wissler, entre outros, defende o movimento social e geográfico, a transformação, a combinação e a dissolução de elementos culturais.

2.2.2. Críticas ao Difusionismo

O conceito de difusionismo teve como objetivo fornecer explicações históricas para as semelhanças observadas entre diferentes culturas, atribuindo significado ao processo de difusão e interações entre vários povos. No entanto, esta abordagem tem enfrentado críticas devido à sua perspetiva dogmática sobre o empréstimo de elementos culturais de supostas fontes originais de dispersão.

A má interpretação de numerosos factos pode ser atribuída à subestimação da inventividade humana e à simplificação excessiva dos mecanismos de difusão.

 É importante reconhecer que os elementos emprestados podem estar incompletos ou fragmentados, uma vez que o seu significado original pode ser eliminado e reaproveitado. Por exemplo, um objeto que possui valor utilitário numa civilização pode adquirir prestígio noutra.

Da mesma forma, um aspeto religioso de uma sociedade pode ser reduzido a uma mera função utilitária. Consequentemente, a transferência de elementos culturais de uma sociedade para outra implica sempre algum grau de perda, adição e remodelação.

Franz Boas, uma figura proeminente na América do Norte, oferece uma perspetiva única sobre o fenómeno do empréstimo cultural.

Ele investiga as razões por trás desses empréstimos, a maneira como são interpretados na cultura receptora, o impacto dos indivíduos pioneiros, a resistência e a assimilação que ocorrem e as subsequentes reinterpretações e inovações que surgem dessas trocas.

Ao considerar a evolução interna das culturas como processos dinâmicos, torna-se evidente que elementos semelhantes provavelmente foram inventados de forma independente em várias sociedades.

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2.3. Culturalismo

Emergindo na década de 1930 no domínio da antropologia cultural nos Estados Unidos, esta escola particular de pensamento fornece uma definição de cultura.

De acordo com esta perspetiva, a cultura é percebida como um sistema abrangente de comportamentos aprendidos que são transmitidos através da educação, imitação e condicionamento (um processo conhecido como enculturação) dentro de um ambiente social específico.

O foco principal dos culturalistas era investigar as complexidades de como a cultura se manifesta dentro dos indivíduos e influencia as suas ações (Oliveira at all, 2026).

2.3.1. Percursores

Dentro do domínio do culturalismo, surgem várias figuras notáveis. Ralph Linton, conhecido pelas suas obras “O Estudo do Homem” e “Os Fundamentos Culturais da Personalidade”, apresenta uma teoria que explora a intrincada ligação entre cultura e personalidade. Segundo Linton, é por meio da educação que a cultura transmite e organiza comportamentos.

Os modelos culturais desempenham um papel fundamental na formação dos pensamentos e ações de um indivíduo, embora existam variações na adesão às normas com base em fatores como género, idade, profissão, educação e riqueza.

Além disso, cada pessoa vivencia apenas um fragmento da sua própria cultura, o que oferece uma gama de possibilidades para diferentes comportamentos, uma vez que vários sistemas de valores coexistem em todas as culturas.

Abraham Kardiner, por outro lado, postula que os costumes e práticas disciplinares adquiridos durante a infância e a adolescência contribuem significativamente para a formação da constituição mental do indivíduo (Pfeffer, 2020).

Na perspetiva deste antropólogo psicanalista, é crucial reconhecer o significado do carácter fundamental, influenciado pelos padrões sociais defendidos por todos os membros de uma comunidade.

Este carácter é evidente através de um estilo de vida distinto, que os indivíduos personalizam dentro do quadro estabelecido por instituições primárias como a família, a educação e a tecnologia, bem como por instituições secundárias como a religião e o folclore. Segundo Ruth Benedict (1887-1948), a cultura serve como elemento definidor e organizador que abrange instituições gerais, interações sociais e comportamentos individuais.

Consequentemente, as correntes ideológicas e emocionais predominantes moldam as inclinações e motivações comportamentais dos membros da sociedade. Margaret Mead (1901-1978) examina a correlação entre os modelos culturais e a maneira como a educação molda a personalidade adulta, considerada socialmente aceitável.

2.3.2. Críticas ao Culturalismo

Os antropólogos culturais, especializados na análise da natureza, estrutura, dinâmica e variações culturais, enfrentam críticas significativas em relação à sua abordagem da formação da personalidade.

Segundo Oliveira at all (2026), uma crítica proeminente é a simplificação excessiva desse processo, com argumentos de que a socialização é um fenômeno contínuo, ocorrendo ao longo da vida e não apenas nos primeiros anos. Essa visão destaca a necessidade de uma compreensão mais nuance e abrangente do desenvolvimento da personalidade, considerando vários fatores e experiências ao longo do tempo.

Além disso, os antropólogos culturais também são alvo de críticas quanto à sua definição de padrões culturais. A argumentação sugere que a abordagem atual não consegue capturar toda a complexidade e profundidade dos padrões culturais, que vão além de comportamentos observáveis e incluem aspetos implícitos e inconscientes do pensamento e da ação. Uma compreensão mais holística dos padrões culturais deveria abranger valores, crenças, costumes e práticas, explícitos e implícitos (Pfeffer, 2020).

Segundo Oliveira at all (2026), Outra crítica fundamental destaca a assunção de precedência cultural pelos antropólogos culturais. Este pressuposto sugere que a cultura tem precedência lógica sobre as experiências individuais, negligenciando a possibilidade de uma influência mútua entre ambas. Uma abordagem mais equilibrada reconheceria a dinâmica interativa entre cultura e experiências individuais, superando a noção unidirecional de influência cultural sobre o indivíduo.

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No âmbito das correntes teóricas da antropologia, o evolucionismo, originado no século XIX, é fundamentado na ideia de progressão cultural, influenciada por Condorcet, Lamarck e Darwin. Acreditava-se que a sociedade evoluía da simplicidade para a complexidade, categorizando grupos como “atrasados” ou “primitivos”. O evolucionismo propõe estágios distintos, como selvageria, barbárie e civilização, delineados por pensadores como Morgan, Marx e Comte. Notáveis precursores incluem Lewis Morgan, Edward Burnett Tylor e James George Frazer. Críticas apontam para simplificações na formação da personalidade, definições inadequadas de padrões culturais e a assunção de precedência cultural.

O difusionismo, surgido no início do século XX como reação ao evolucionismo, destaca a dispersão geográfica de traços culturais originados em fontes específicas. Escolas notáveis, como a britânica, a germano-austríaca e a norte-americana, exploraram as rotas, velocidade, áreas de difusão e condições favoráveis dos traços culturais. Contudo, o difusionismo enfrentou críticas por sua visão dogmática e simplista do empréstimo cultural, subestimando a inventividade humana e ignorando a transformação e a reinterpretação dos elementos culturais transferidos.

O culturalismo, que emergiu nos anos 1930 nos EUA, define cultura como um sistema aprendido que influencia comportamentos. Ralph Linton destaca a influência da educação e a diversidade na adesão a normas culturais. Abraham Kardiner enfatiza a formação da constituição mental pela infância e adolescência. Críticas ao culturalismo apontam para simplificações na formação da personalidade, definições inadequadas de padrões culturais e a assunção de precedência cultural, destacando a necessidade de uma compreensão mais abrangente do desenvolvimento humano. 

 

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IV. BIBLIOGRAFIA

  • Caldeira, T. (1988). A presença do autor e a pós-modernidade em Antropologia. In: Novos Estudos, Cebrap, SP.
  • Gonçalves, A. C. (2002). Trajectórias do pensamento antropológico. Lisboa: Universidade Aberta.
  • Oliveira, B. B. C. de, Nascimento, Gonçalves, A. B. R., J. L. do, Moraes, M. S. de, & Sodré, P. R. (2016). VI Congresso de Estudos Literários: Anais Multiteorias – Correntes Críticas, Culturalismo, Transdisciplinaridade (2ª reimpressão). Vitória: PPGL
  • Guia para elaboração de trabalhos acadêmicos: formato apa. 2019. Disponível em https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/guia-trabalhos-academicos-apa.pdf
  • Moutinho, M. (1980). Introdução à Etnologia. Lisboa: Estampa, pp. 79-108.
  • O que é antropologia, suas principais correntes | Monografías Plus. (n.d.) recuperado March 10, 2024, de www.monografias.com
  • Pfeffer, R. (2020). A crítica ao paradigma culturalista na interpretação da formação histórica brasileira. Cadernos de História, 20, 229. https://doi.org/10.5752/P.2237-8871.2019v20n33p229
  • Santos, A. (2002). Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Social (pp. 123-170). Universidade Aberta.
  • Colleyn, J.-P. (2005). Elementos de Antropologia Social e Cultural. Edições 70.
  • Vilanculo, G. Z. (s/d). Manual de Antropologia Cultural de Moçambique. Universidade Pedagógica: Maxixe.

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